O amor é um lugar estranho. E fodido.
Se eu fechar os olhos com o intuito de te lembrar. É fácil demais.
É assim que se diz de quando se fala de algo que se ama. Ou amou.
Lembramo-nos de cada traço. Dos cheiros. Das sensações que sentimos. E até, se mantermos os olhos fechados conseguimos lembrar daquele sussurrar de respiração comum a toda a gente, mas que conseguimos diferenciar "daquela".
O amor faz-nos ver pormenores tantas vezes esquecidos. Banais até. Comuns a tantos. Mas particularmente diferentes a todos.
Lembrar faz parte. Não da dor do passado. Mas da história que cada um tem. Da sua história e de quem dela faz parte.
Se eu fechar os olhos com o intuito de lembrar. É mesmo fácil.
Assim como foi fácil apaixonar-me. E assim como as rugas ganham espaço. Assim como os traços das mãos ficam mais evidentes. Assim como as feridas ficam por mais curadas e resolvidas que estejam. Lembrar é fácil quando foi realmente importante fazer parte.
Um coração divide momentos. Mas não esquece amor. Quem ama fica lá. Mesmo que num dos imensos compartimentos que o nosso coração consegue ter. Mesmo que numa gaveta bem fechada da qual a chave já nem reza história. Mas a nossa lembrança não nos escapa a esse amor guardado. Talvez um dia mais tarde. Talvez um dia já não consiga diferenciar tanto quando fechar os olhos, aquele cheiro, aqueles traços outrora vincados, mas o amor... o amor estará lá. Porque somos feitos de amor e se nos falha o amor. Mesmo aqueles guardados naquela cabaninha chamada memória falta-nos vida. E por mais que seja já quase de outra vida, é da nossa história. Mais ou menos boa de se lembrar. Mais ou menos sofrida. Mas da nossa história. Que cada um tem a sua. E nos nossos olhos consegue ver-se essa história. E se nos falta história, nada somos. E eu sei, que se quiser e fechar os olhos. Lembro-me.
Foi amor. É amor. [ ❤ ]