A inversão do papel Mãe e filha..
Esta noite dei "colinho" à minha Mãe.
Há uma altura na vida em que parece que os papéis se invertem. Não há uma idade. Não é a partir de uma meta. Não há nada traçado. Mas há uma altura em que inevitavelmente isso acontece.
Já sou eu que digo vezes sem conta, cuidado com os carros a atravessar a rua, cuidado com as escadas, tem cuidado com o sol, não apanhes frio. Queres um chá. Põe o cinto. Estás bem? Não comas isso que te faz mal.
Há um dia ou outro, que dá vontade de lhe pedir colo, como talvez pedia com cerca de dois anos, mas que agora que sei falar um pouco melhor não utilizo palavras, mas que também inevitavelmente ela percebe se realmente eu estiver a precisar de "colo".
Ontem, ela estava doente.
A minha Mãe, é a super-Mãe. Nunca está doente. Muito raramente a vi adoentada, Graças a Deus.
Ontem estava. E há uma inevitável preocupação, talvez devido a essa inversão de papéis que me fez querer ficar em casa a dar-lhe colo, a ver cada minuto para que melhorasse, a querer estar ali junto a ela para não me escapar nada. Não deu, mas tentei estar ali o mais que pude, ora a correr para casa assim que consegui, ora a ligar-lhe.
Que chata. Quando cheguei ao fim do dia pensei exactamente isso. E tive a noção do que é acharmos tantas vezes as nossas mães chatinhas por se preocuparem demasiado com tudo e mais alguma coisa, mas na verdade, nesta fase de papéis invertidos não somos diferentes. Eu pelo menos não o conseguiria ser. Até a querer que ela se deitasse à minha beira e eu ficar ali a dormir meia acordada sobressaltada a cada movimento e a gastar a expressão "estás bem?".
Hoje, com ela já bem melhor já nos rimos, por esta Maria chata que sou quando me preocupo, quando tenho medo pelos outros, ,quando vejo a dor dos meus como minha.
Essa altura na vida em que os papeis se invertem, é inevitável não tentar ser-lhe um pouco daquilo que ela sempre foi comigo. E querer ser lhe mais.
Mãe galinha. Porque mesmo sendo eu a filha, serei a mãe sempre que (precisar e) conseguir ser-lhe. E que me seja a Mãe que tem sido!