Não é fácil falar de quem não está, mas por vezes é necessário.
Temos sempre alguém que já cá não está. Aqui ao nosso lado. Eu não penso que essas pessoas tenham que ficar lá trás, pelo contrário há quem mereça dar-lhes continuidade. Infelizmente já há umas quantas que a ausência no meu dia-a-dia é deveras sentida. E eu gosto de falar delas, dá-me uma tranquilidade dizer o que sinto, a falta, a saudade, o sentimento, talvez muito daquilo que SEMPRE fica por dizer. Não gosto muito de falar delas a outros, há coisas que são nossas e ninguém as entenderá. Hoje quero falar, melhor dizendo desabafar, do J. daquele J. que sempre me lembro, sempre me rio e sempre dá um aperto uma lágrima por tudo. E vai dar. O J. era um apaixonado pela vida, tinha um sorriso presente e dizia tudo o que sentia, não tinha problemas, era demasiado espontâneo, impulsivo, amigo, amoroso. Um dia roubou-me um beijo eu dei-lhe uma chapada. Não, não fomos namorados, ele era um eterno apaixonado pela pessoa que eu era na altura. Fomos muito amigos e eu tinha nele um amigo para a vida inteira. Eu mexia com o coração dele mas o meu coração não partilhava o mesmo sentimento. Ele era de surpresas e mais surpresas. De palavras com actos. De mensagens lindíssimas (ainda tenho algumas dessas mensagens). Era mesmo boa pessoa. Bom rapaz. Tentei sempre que ele tivesse a noção que a sua paixoneta não era correspondida mas que em mim tinha uma amiga sempre. Um dia num tom sério chamou-me para falar e ali no meio do bar, rodeada por garrafas, com as luzes a piscar e o som alto nos meus ouvidos agarrando-me às mãos disse-me "estou doente, sabes as minhas constantes dores de cabeça, parece que agora deu alguma coisa, tenho um tumor benigno na cabeça, mas eu vou vencê-lo!" e foi ali que não mais ouvi uma música que passava só aquela notícia entoava na minha cabeça com o sorriso rasgado dele como se fosse uma simples enxaqueca nada mais. Pormenores à parte lembro-me de após a operação mandou-me uma mensagem a dizer que tinha corrido tudo bem e que estava bem. No dia seguinte recebo uma mensagem de uma amiga que apenas dizia: "O J. morreu!" é claro que não quis acreditar até porque há poucas horas ele próprio me tinha dito que tudo estava bem...
O J. Fez-me sorrir e faz ainda quando me lembro das maluquices dele. Não consegui ir à sua despedida e só passado alguns anos, no ano passado tive a coragem de pegar no carro e ir procurar a sua ultima morada... Eu não falo a ninguém do J. mas não é por me ter esquecido dele. Há coisas que custam aceitar. Muitas vezes leva-se uma vida...
Este texto fez-me abrir várias vezes o post e deixá-lo em rascunho muito tempo. Iniciei-o no dia em que fui ao cemitério pela primeira vez no ano passado e só agora o terminei porque hoje apeteceu-me falar do J.! Há dias...